O governo Bolsonaro surpreendeu o setor petrolífero e a própria Petrobras com a indicação de Nivio Ziviani, especialista em tecnologia da informação, para o lugar no conselho de administração que seria originalmente de um geólogo com longa experiência no mercado de óleo e gás, John Forman, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Com a indicação, o novo governo consolida o movimento de transformação do perfil do conselho da estatal, marcado nos últimos anos pela presença de especialistas em governança, para um grupo multidisciplinar, em linha com os desafios atuais da indústria petrolífera mundial.

Ziviani foi indicado depois que Forman desistiu da vaga, por causa do desgaste provocado por uma condenação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por uso de informação privilegiada na negociação de ações. O exdiretor da ANP recorreu da decisão à Justiça.

Ziviani é professor emérito do departamento de ciência da computação da UFMG. Seu currículo no site da universidade diz que suas pesquisas giram em torno de algoritmos, recuperação de informação e aprendizado de máquina. Ele é cofundador e diretor de pesquisa da Kunumi, uma startup de inteligência artificial, além de membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

A indicação é uma novidade para uma empresa da velha economia, que o economista Roberto Campos costumava chamar de "Petrossauro". Ziviani é acadêmico e empreendedor, uma combinação rara no Brasil. Ele criou a empresa de busca na internet Akwan, vendida em 2005 para o Google. Em entrevista ao Valor em junho de 2015, ele disse que usa "o chapéu de um pesquisador de sucesso, que transforma conhecimento em produto e serviço".

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a indicação de Ziviani cria referências de interdisciplinaridade e modernização ao principal órgão deliberativo da petroleira. "A entrada de Ziviani cria uma noção de interdisciplinaridade não só para o conselho, mas para a companhia toda, o que poderá acelerar o processo de digitalização", afirmou o especialista.

A indicação foi bem recebida pelo próprio conselho da companhia, segundo o Valor apurou, principalmente pelo currículo e a experiência de Ziviani. De acordo com a Petrobras, a indicação é consistente com a ênfase à tecnologia da informação no processo de mudança transformacional para a maximização da geração de valor para os acionistas e o Brasil.

A provável confirmação de Ziviani no cargo ajuda a mudar o perfil do conselho da Petrobras, que era fortemente baseado em governança, auditoria e conformidade, como reflexo do trabalho de recuperação da companhia após o esquema de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato.

O conselho que encerrou o ano passado tinha dois especialistas em governança e auditoria (Nelson Carvalho, presidente do conselho, e Francisco Petros), três nomes ligados ao mercado financeiro (Sônia Villalobos, Marcelo Mesquita e Ivan Monteiro, presidente da estatal), um contador (Jerônimo Antunes) e um especialista em direito e administração (Durval Santos). Completavam o colegiado uma especialista da área de óleo e gás (Ana Zambelli), outra de sustentabilidade (Clarissa Lins) e um pesquisador na área de fontes renováveis (Segen Estefen).

Agora, considerando a atual composição do conselho e os nomes indicados pela União, o colegiado será formado por um militar (o almirante Eduardo Leal Ferreira), um especialista em petroquímica e telecomunicações (João Cox), um especialista em tecnologia da informação (Ziviani), um economista (Roberto Castello Branco, novo presidente-executivo) e um técnico na área de refino (Danilo Silva, representante dos funcionários).

Além dos novos nomes, permanecem no colegiado um contador, dois nomes do mercado financeiro, um especialista em óleo e gás, um em sustentabilidade e um em fontes renováveis.

Fonte: Valor

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